O escritor Markus Zusaks mostra como a morte se sente assombrada por os humanos. No entanto esta assombrou os homens durante séculos chegando a consagrar-se tabu. Hoje, o gelo da palavra morte materializou-se no da palavra doença ,encontrando-se demasiadas vezes, viúva da palavra cura.
A palavra doença é uma palavra amaldiçoada, nómada, que não dá
paz a quem a ouve, a quem a sente. Esta palavra consegue sem descriminar, ferir o coração não só do doente,
mas de todos os que o envolvem. Existe por
aí, no meio de nós, uma das doenças que mais me assustam, e que mais afectam a
população mundial: O maldito Alzheimer, que só em Portugal trai e trama, 90 000 pessoas. Com um nome pomposo do
primeiro psiquiatra a descobri-la, esta é a doença, que entre tantas outras, me
assusta de morte. (Quem sabe, não assusta a própria morte!)
Acredito profundamente que perder um membro do corpo é
traumático para uma pessoa, que sentir o nosso corpo a deteriorar-se em obséquio
de uma doença é penoso. Mas se existe algo pior do que isso, é com certeza a perda
do que somos. Quem somos, quem fomos, de onde vimos, do que gostamos, de quem
gostamos, e porquê.Por mais voltas que dê
à cabeça, não me consigo lembrar de uma dor tão esmagadora quanto esta. É o
arrastar decadente de uma perda de capacidades, que se vive de dia para dia,
pela pessoa… E por todos os que a rodeiam.
Creio que ainda não vi
nada mais triste no mundo, do que um filho
travar o choro enquanto acarinha a mãe, porque esta não o reconhece. Uma
senhora de quase 90 anos, recusar-se a jantar porque está à espera do falecido
marido e da falecida mãe.
Se nos imaginarmos daqui a uns anos na
pele desta pessoa , o terror da situação abocanha-nos, até o
medo se entranhar por todos os nossos ossos. Mas se ser o doente é aterrador, até que
ponto , amar alguém doente não o é , de igual forma? Como cuidar de alguém,
que amamos mais do que a própria vida, quando essa pessoa não sabe quem somos? O que fazer quando estes vivem no passado, e
acreditam com toda a certeza, que vivem num mundo que já não existe?
O cancro, a doença da
moda, tem ceifado impiedosamente ao longo dos anos, alguém que me é muito querido. É uma
doença asquerosa. Contamina um órgão ou mais. Contamina a pessoa, os amigos, a família. No entanto,
existe sempre a esperança. A luta! A fé nos casos que podem ser contrariados, e
que muitas vezes, acabam por sê-lo. O cancro é horrível. É uma palavra sebosa,que sempre me provocou um enjoo de nervos. Ainda assim, não se compara nem por
um segundo ao Alzheimer.
Alzheimer é a doença em que se vende a alma ao diabo, e não se ganha nada em troca.
Existe quem justifique o sentido e o valor da vida sem a perspectiva individual de cada um?
Viver é sinónimo de
respirar, ou de pensar e sentir? Não será exactamente essa capacidade, a de
subjectivar a realidade, o que nos distingue uns dos outros e nos permite ser
únicos? Estarei realmente viva, quando me esquecer quem amei? Por onde viajei? O que aprendi?
Cabe-nos a nós, seres que se distinguem pelo privilégio da capacidade de criar e de amar, não baixar os braços nesta guerra. A todos os que lutam contra esta doença nas suas próprias casas, pesquisem na Internet, frequentem workshops e formações, assistam a conferências sobre o tema, façam o que puderem para se adaptar a esta realidade, cuidando e acarinhando do doente, da melhor forma possível. Aos responsáveis pelos lares, centros de dia e de repouso, e qualquer outra instituição que abrigue doentes de Alzheimer, invistam, por favor, em profissionais que trabalhem a estimulação cognitiva, física e social dos doentes e não apenas em médicos, enfermeiros e psicólogos. (que não deixam de desempenhar um papel fundamental).
Assim sendo, aqui deixo
o link do site da
Associação Portuguesa de Familiares e Amigos dos Doentes com
Alzheimer, que desempenha um papel importante na sensibilização para a doença,
nomeadamente na urgência da realização dos pré-diagnósticos, no
desenvolvimento de ações de formação para os cuidadores dos doentes, etc:
http://alzheimerportugal.org/pt/inicio
Para quem quiser ajudar, tornando-se sócio, ou oferecendo um donativo, um
grande obrigada da minha parte, e creio eu, de todas as pessoas que
diretamente, ou indiretamente já sofreram, ou estão a sofrer com este mal. Não desistam!
Beijinho,
Lili.