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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Nada me falta

O Sol traz ao de cima o melhor das pessoas. A mim trouxe-me ,de longe, a inspiração. 
Um pequenino poema que segreda : não saber conjugar o verbo ajustar não é o suficiente para nos apagar. 

"Falta-me o vestido da moda, o brilho no batom, o bronze na pele
 Falta-me o perfume francês e o cabelo de Rapunzel
 Falta-me a magreza 
Falta-me a delicadeza
 Falta-me o copo na mão, o riso fácil, a destreza no jogo social
 Falta-me acordar , esfregar os olhos e pensar "sou tão especial"
 Falta-me a paciência e a sorte.
Falta-me um jaguar como transporte.
 Falta-me uma mansão de 3 andares e o sorriso obstinado.
 Falta-me a fragilidade feminina e o sórdido à-vontade.
Falta-me o gosto pelo ordinário
Falta-me esquecer o meu horário
Faltam-me a leviandade, a tontice, a lepra da popularidade
Falta-me investir no swag, deitar fora a autenticidade
Falta-me a resignação e a vontade de impressionar
Ainda me falta tanto para me encaixar. Falta-me saber enfeitiçar.
Talvez nunca me encaixe.Talvez não queira.
Talvez seja o que tenho de melhor: não me embalar, não me incomodar.
Falta-me tanto...
Faço da minha palidez , a luz do luar
Faço do meu coração o sítio para descansar.
Faço um laço que prende, mas que não agarra
Faço paz ,com um lápis, amor com a guitarra
Faço das palavras o meu encanto
Faço do silêncio o meu santo
Faço dos medos, tendências de estação, da brutalidade, faço atracão.
Da ingenuidade uma estranha moldura
Da pureza, companhia na sepultura
Dos erros, campos de encontro, de lírios
Dos poetas, os meus melhores amigos
Da minha companhia, a derradeira voluptuosidade
Das malas e viagens, o olhar da minha idade
Faço da solidão, banda sonora
Faço do meu peito, caixa de pandora
Eu faço…
Nada me falta."





terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O Azar do Alzheimer

O escritor Markus Zusaks mostra como a morte se sente assombrada por os humanos. No entanto esta assombrou os homens durante séculos chegando a consagrar-se tabu. Hoje, o gelo da palavra morte materializou-se no da palavra doença ,encontrando-se demasiadas vezes, viúva da palavra cura.
 A palavra doença é uma palavra amaldiçoada, nómada, que não dá paz a quem a ouve, a quem a sente. Esta palavra consegue sem descriminar, ferir o coração não só do doente, mas de todos os que o envolvem. Existe por aí, no meio de nós, uma das doenças que mais me assustam, e que mais afectam a população mundial: O maldito Alzheimer, que só em Portugal trai e trama, 90 000 pessoas. Com um nome pomposo do primeiro psiquiatra a descobri-la, esta é a doença, que entre tantas outras, me assusta de morte. (Quem sabe, não assusta a própria morte!)
 Acredito profundamente que perder um membro do corpo é traumático para uma pessoa, que sentir o nosso corpo a deteriorar-se em obséquio de uma doença é penoso. Mas se existe algo pior do que isso, é com certeza a perda do que somos. Quem somos, quem fomos, de onde vimos, do que gostamos, de quem gostamos, e porquê.Por mais voltas que dê à cabeça, não me consigo lembrar de uma dor tão esmagadora quanto esta. É o arrastar decadente de uma perda de capacidades, que se vive de dia para dia, pela pessoa… E por todos os que a rodeiam. 
Creio que ainda não vi nada mais triste no mundo, do que um filho travar o choro enquanto acarinha a mãe, porque esta não o reconhece. Uma senhora de quase 90 anos, recusar-se a jantar porque está à espera do falecido marido e da falecida mãe. 
Se nos imaginarmos daqui a uns anos na pele desta pessoa , o terror da situação abocanha-nos, até o medo se entranhar por todos os nossos ossos. Mas se ser o doente é aterrador, até que ponto , amar alguém doente não o é , de igual forma? Como cuidar de alguém, que amamos mais do que a própria vida, quando essa pessoa não sabe quem somos? O que fazer quando estes vivem no passado, e acreditam com toda a certeza, que vivem num mundo que já não existe?
O cancro, a doença da moda, tem ceifado impiedosamente ao longo  dos anos, alguém que me é muito querido. É uma doença asquerosa. Contamina um órgão ou mais. Contamina a pessoa, os amigos, a família. No entanto, existe sempre a esperança. A luta! A fé nos casos que podem ser contrariados, e que muitas vezes,  acabam por sê-lo. O cancro é horrível. É uma palavra sebosa,que sempre me provocou um enjoo de nervos. Ainda assim, não se compara nem por um segundo ao Alzheimer.
Alzheimer é a doença em que se vende a alma ao diabo, e não se ganha nada em troca.
Existe quem  justifique o sentido e o valor da vida sem a perspectiva individual de cada um?
Viver é sinónimo de respirar, ou de pensar e sentir? Não será exactamente essa capacidade, a de subjectivar a realidade, o que nos distingue uns dos outros e nos permite ser únicos? Estarei realmente viva, quando me esquecer quem amei?  Por onde viajei? O que aprendi?
Cabe-nos a nós, seres que se distinguem pelo privilégio da capacidade de criar e de amar, não baixar os braços nesta guerra. A todos os que lutam contra esta doença  nas suas próprias casas,  pesquisem na Internet, frequentem workshops e formações, assistam a conferências sobre o tema, façam o que puderem para se adaptar a esta realidade, cuidando e acarinhando do doente,  da melhor forma possível.  Aos responsáveis pelos lares, centros de dia e de repouso, e qualquer outra instituição que abrigue doentes de Alzheimer, invistam, por favor, em profissionais que trabalhem a estimulação cognitiva, física e social dos doentes e não apenas em médicos, enfermeiros e psicólogos. (que não deixam de desempenhar um papel fundamental). 

Assim sendo, aqui deixo o link do site da Associação Portuguesa de Familiares e Amigos dos Doentes com Alzheimer, que desempenha um papel importante na sensibilização para a doença, nomeadamente na urgência da realização dos pré-diagnósticos, no desenvolvimento de ações de formação para os cuidadores dos doentes, etc:  http://alzheimerportugal.org/pt/inicio 
Para quem quiser ajudar, tornando-se sócio, ou oferecendo um donativo, um grande obrigada da minha parte, e creio eu, de todas as pessoas que diretamente, ou indiretamente já sofreram, ou estão a sofrer com este mal. Não desistam!


Beijinho,



Lili.