"De mim , dou-te tudo, como sabes.
Dou-te o mundo e o infinito, de forma a que aquando a morte te levar a passear-
e eu não tiver dinheiro para o avião ou para a carreira- te lembres sempre de
mim. A mulher que te deu tudo. Todo o amor que há em mim é teu, porque és tu o
amor que há dentro de mim. Nem mais nem menos.
Vivo para ti, e confesso-o porque
o tempo hoje não nos ouve. Vivo de ti meu amor, mais do que vivo de mim mesma.
Que por mais encantos que encontre em mim, nenhum deles tem a grandiosidade de
ser tão livre como leve, e por isso mesmo, tão assustador e cativante. Vivo de ti
porque nunca viverás para mim, porque não sabes amar, e por isso mesmo, já não
tenho medo de o dizer: confio em ti. Foram as palavras mais importantes que te
proferi. Sabes que confiar no meu dicionário cardíaco, significa muito mais que
amar. Amar todos amam. Confiar só os que podem.
Eu nunca pude. Aliás, nem sei se
ainda o posso. Mas sei uma coisa: sou tão grande que não caibo neste corpo, e ao transbordar, dou aos outros as coisas que sobram
dentro de mim. A ti dou-te a confiança de olhos fechados, num amor tão
verdadeiro, como eterno. Que quando eu não ouvir os choros de dor e saudades, o
fechar da madeira, e a terra atirada para cima ,como sinal de que o meu tempo já
finou, não te esqueças: dei-te tudo, fui tudo.
Amei-te todos os segundos em que
me dei, em todos os que te ignorei, e em todos os que te odiei e jurei que
nunca mais iria amar. Amei-te mesmo quando desisti de ti. De mim. Amei-te ainda mais, quando descobri que existiam partes de ti que preferia
nunca ter descoberto.
Mas o amor é isso mesmo: acarinhar a podridão do outro,
pentear os pelos do monstro escondido cá dentro, e lutar a seu lado, mesmo na mais negra das
noites. Sem nunca deixar de dar as mãos. Amar é isto. Ser-se um. É não permitir que nenhuma frivolidade do ego abra frinchas de dúvida entre nós. Sabes que sou
demasiado grande para o mundo, demasiado pequena para viver. Mas juntos somos
invencíveis.
Por isso dou-te tudo. Como sabes."
Lili,