"Amor,
A incerteza não me deixa viver.
Não ostentas desamor por mim, e
no entanto, a insuficiência do teu amor, comparece, sem nunca se atrasar.
Desgasta o meu, sabes? Talvez tenhas uma guerra dentro de ti e o meu egoísmo
não a compreenda. Talvez o teu olhar alucine que não deves nada ao mundo, que as
guerras não te pertencem. Mas e eu? Eu estou aqui. Perdi três comboios, cinco
sonhos, e um amor.
Por isso hoje, mas só hoje,
peço-te: abandona-me de uma vez. Mostra-me de forma clara e rude, que não me
amas. Descortina a névoa do que somos, deixa-me ver-te.
Hoje suplico-te: deixa-me de uma
vez por todas. Sê mau. Vira as costas, grita, diz que não presto, que não sei amar alguém que
não eu. Diz que a minha beleza já não te alicia, que a minha alma à muito
apodreceu. Diz que mereces melhor, que não te dou valor, que sou chata. Diz que
a história que escrevi é ficção, e que não há amor que sobreviva a esta vida.
Deixa-me triste, deixa-me só.
Perdi a inocência e nunca aprendi
a recitar para mim mesma, um silêncio que a minha canção não compreende. Eu
sei, já te pedi muito. Mas por favor, entende. O meu corpo é demasiado pequeno
para o que tenho dentro do peito. Pelo menos lembra-te disso.
Hoje não peças desculpa, não uses
clichés, não te justifiques, não te compares, não digas que mereço mais, que
sou muito mais. Não me peças para domar uma dor que não sentes. Não digas que me conheces os cantos. Não me elogies com uma perfeição que não me
pertence. Não prometas que vai ser diferente. Não jures que vai melhorar. Não
me abraces, não me beijes, não me toques. Não me embales com esses gestos que
tão facilmente me tomam a sensatez. Não te deites a meu lado triste. E por
favor.. Não chores. As tuas lágrimas tornam tudo mais difícil , amor. Caiem
como folhas, despem-te. E eu fico ali, pasmada a olhar para o teu rosto,
encarando a inutilidade de um choro que nunca nos levou a lado nenhum.
Hoje não, não me digas para ser
paciente. Não me peças compreensão. Nem sequer discernimento.
Faz assim, olha-me nos olhos,
aperta-me a mão e diz baixinho: acabou.
E o meu adeus vai ser leve. Leve
como uma pena, mas sem pena de nada.
Vou apanhar um avião, vou dar
mais a mão, vou sorrir sem noção.
Porque finalmente, o adeus é a
certeza.
Tu sabes, sobrevivo na incerteza.
Mas na certeza! Ai na certeza! Na certeza repouso em paz."
Espero que tenham gostado!
Beijinho,
Lili