Hoje disse-lhe que ainda é cedo.
Que ainda há tempo para tudo, menos para nos sentarmos do lado cinzento da
vida, de braços cruzados e sobrolho franzido, à espera do tal dia, da tal hora,
da tal pessoa, do tal ponto de viragem. Que há capítulos que acabam mas o livro
da vida ainda agora começou. Que temos o resto da vida para termos o que
ambicionamos hoje, mas o que temos hoje não teremos o resto da vida. Ainda temos
sangue fresco a correr-nos pelas veias, juventude a exalar pelos poros e uma
alma pintada de todas as cores. Ainda temos o bolso cheio de devaneios e
aventuras, utopias e fantasias, e uma ilusão saudável de que não existem esperanças
quiméricas capazes de cortar a ambição que nos move. Ainda temos o melhor do
mundo. Temos os raspanetes da mãe e o colo indelével e soberano do pai, que vão
ser, decerto, as nossas saudades favoritas quando já não tivermos o melhor do
mundo à distância de um regaço, para nos elevar as marés altas dos sonhos.
Disse-lhe que vão haver dias em
que o otimismo se esvai, as palavras bonitas vão ser só isso mesmo e vamos
mandar tudo para a Excelentíssima Senhora da Asneira. E está tudo bem com isso.
É tempo de correr o mundo de
mochila às costas, pés na terra molhada e cabelos ao vento enquanto a vida é
leve e doce. Enquanto temos tudo e não sabemos.
E quando alguém perguntar se não
é demasiado louca a forma como vivemos a vida, que a nossa resposta seja sempre
“Tomara que sim”.
Daniela Sousa
Daniela Sousa
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